terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Independenciazinha !

"Embora de pano, (Emília) encarna a autonomia de pensamento que sempre vem acompanhada de muita crítica, curiosidade e criatividade. Assim, quer ver, quer saber e tem seu modo particular de interpretar.
Sendo de pano, está dentro e fora da espécie humana, o que lhe confere o distanciamento necessário para apurar sua crítica.
Ela é descrita como uma tirana sem coração, interesseira e incompreensível : faz coisas de louca e também faz coisas que espantam de tão sensata.
Na realidade o que Emília é, é isso : uma independenciazinha de pano!" *

         São essas características: curiosidade, crítica, autonomia de pensamento... que queremos com a educação. Em um mundo em que o volume de informação é infinito e em que essa informação está disponível, tornou-se ainda mais importante  o desenvolvimento de atitudes, e são essas características que são importantes, ao lado obviamente das questões éticas.
        Por isso, sou fã da Emília, pelo que representa, na infância: a alegria de descobrir o mundo, a liberdade para questionar o que está determinado, a segurança para inventar...
Selecionei um trecho de "A chave do tamanho". Vejam que danadinha...

PÔR-DO-SOL DE TROMBETA
- O pôr-do-sol de hoje é de trombeta – disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas – “quero ver se tem saci dentro.” E o Visconde dava explicações científicas de todas as coisas.
O pôr-do-sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr-do-sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado quem em certos dias o Sol “tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do ocaso.” Diante dum pôr-do-sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.
- Que maravilhoso fenômeno é o pôr-do-sol! – disse ela.
Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele “fenômeno”, e resolveu encrencar.
- Por que é que se diz “pôr-do-sol”, Dona Benta? – perguntou com o  seu célebre ar de anjo de inocência. Que é que o Sol põe? Algum ovo?
Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso “então” da Emília.
- O Sol não põe nada, bobinha. O Sol põe-se a si mesmo.
- Então ele é ovo de si mesmo. Que graça!
Dona Benta teve a pachorra de explicar.
- “Pôr-do-sol” é um modo de dizer. Você bem sabe que o Sol não se põe nunca; a Terra e os outros planetas é que se movem em redor dele. Mas a impressão nossa é de que o Sol se move em redor da Terra – e portanto nasce pela manhã e põe-se à tarde.
Estou cansada de saber disso--- declarou  Emília 


*"A escrita do Eu" Eliane Zagury

Um comentário:

  1. Olha, que me deu vontade de ler Monteiro Lobato de novo! Na verdade, não vai ser 'de novo', porque agora seria com outros olhos. Curtiria Emília de novo e talvez até muito mais. E talvez aprendesse com ela agora muito mais... To adorando seu blog! bjs e muito sucesso! Dadá

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