"Embora de pano, (Emília) encarna a autonomia de pensamento que sempre vem acompanhada de muita crítica, curiosidade e criatividade. Assim, quer ver, quer saber e tem seu modo particular de interpretar.
Sendo de pano, está dentro e fora da espécie humana, o que lhe confere o distanciamento necessário para apurar sua crítica.
Ela é descrita como uma tirana sem coração, interesseira e incompreensível : faz coisas de louca e também faz coisas que espantam de tão sensata.
Na realidade o que Emília é, é isso : uma independenciazinha de pano!" *
São essas características: curiosidade, crítica, autonomia de pensamento... que queremos com a educação. Em um mundo em que o volume de informação é infinito e em que essa informação está disponível, tornou-se ainda mais importante o desenvolvimento de atitudes, e são essas características que são importantes, ao lado obviamente das questões éticas.
Por isso, sou fã da Emília, pelo que representa, na infância: a alegria de descobrir o mundo, a liberdade para questionar o que está determinado, a segurança para inventar...
Selecionei um trecho de "A chave do tamanho". Vejam que danadinha...
Por isso, sou fã da Emília, pelo que representa, na infância: a alegria de descobrir o mundo, a liberdade para questionar o que está determinado, a segurança para inventar...
Selecionei um trecho de "A chave do tamanho". Vejam que danadinha...
PÔR-DO-SOL DE TROMBETA
- O pôr-do-sol de hoje é de trombeta – disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas – “quero ver se tem saci dentro.” E o Visconde dava explicações científicas de todas as coisas.
O pôr-do-sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr-do-sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado quem em certos dias o Sol “tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do ocaso.” Diante dum pôr-do-sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.
- Que maravilhoso fenômeno é o pôr-do-sol! – disse ela.
Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele “fenômeno”, e resolveu encrencar.
- Por que é que se diz “pôr-do-sol”, Dona Benta? – perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. Que é que o Sol põe? Algum ovo?
Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso “então” da Emília.
- O Sol não põe nada, bobinha. O Sol põe-se a si mesmo.
- Então ele é ovo de si mesmo. Que graça!
Dona Benta teve a pachorra de explicar.
- “Pôr-do-sol” é um modo de dizer. Você bem sabe que o Sol não se põe nunca; a Terra e os outros planetas é que se movem em redor dele. Mas a impressão nossa é de que o Sol se move em redor da Terra – e portanto nasce pela manhã e põe-se à tarde.
Estou cansada de saber disso--- declarou Emília
*"A escrita do Eu" Eliane Zagury
Estou cansada de saber disso--- declarou Emília
*"A escrita do Eu" Eliane Zagury
Olha, que me deu vontade de ler Monteiro Lobato de novo! Na verdade, não vai ser 'de novo', porque agora seria com outros olhos. Curtiria Emília de novo e talvez até muito mais. E talvez aprendesse com ela agora muito mais... To adorando seu blog! bjs e muito sucesso! Dadá
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